Páginas

Total de visualizações de página

terça-feira, 27 de setembro de 2011

DESTA VEZ NAO VOU ESCAPAR (PORTUGUES)

Sempre me pergunto
se algo acontece do outro lado do espelho
quando nos interrogamos cada manhã antes de partir para o dia.
O tempo fica imóvel
te deixa mastigar cada palavra e cada careta antes de despir teu rosto
te convida a subir a sua engrenagem, te deixa sair sem um arranhão,
te vende cada jornada como balas num semáforo.

Há uns anos consegui escapar das letras que corroíam meu corpo
que hipnotizavam minha mão direita quando decidia escrever naquele muro
que resguardava minha casa das despedidas,
mas hoje não me sinto capaz de fugir
das reprimendas que minha mãe tece pelo telefone
quando falo sobre bandeiras, sexo y beijos não marcados.

Não escaparei dos olhos que queimam meu corpo
quando respiro as marcas que o tempo fará sem desculpas
nesta pele que agora segura minhas vísceras e meus medos,
e nem sei se um dia me darão a salvaguarda para usar todos os adjetivos
que meus poemas me obrigam por causa das latitudes.

Não quero fazer malabarismos com estas luzes que ainda não chegaram
não quero sofrer por antecipação com as músicas que ninguém cantou,
não quero suicidar minha paixão nesta apocalipse diária,
não quero me enclaustrar detrás das grades dos meus occipitais
não quero pedir uma trégua,
                           pois sou muito jovem para morrer de vícios.

Prefiro me escutar com mais calma desde meu mundo de pano verde
onde me invento profeta, todo-poderoso e divino,
prefiro ouvir as vozes que saem sem pressa desde Havana
com a clara transparência de uma escura senhora de media idade,
prefiro chorar um pouco com a Janet, que ficou órfã de irmão
e tem o coração partido de dor,
prefiro viver o agora pois o amanha ninguém sabe,
continuar desenhando as mesmas letras que desaprovam os avós
nas paredes que colorem o arco-íris os poetas.

Não sei quando será o próximo dilúvio
nem se as trombas de fogo atingirão nesse dia meus dedos
                                                                                    ameaçados de morte,
prefiro me simplificar devorando as ruas da vida
com meus pés descalços e culpados
sem prestar muita atenção aos semáforos inquisidores
que sepultam qualquer vontade de amanhecer cheio de espuma.
Prefiro habitar o berço azul onde me escondo nos dias cinzas,
onde me salvo dos pecados quando beijo as feridas de outros mortais
e com esta paixão feita de estrelas, me lanço em pedaços
misturo meu corpo com as nuvens, derramo meu sangue com o pó
e abraço com a voz minhas melhores árvores.

Nenhum comentário:

Postar um comentário